
Crio joias como quem traduz pensamentos.
Meu processo começa na imaterialidade — palavras, conceitos, atmosferas — e se desdobra em formas que habitam o corpo. A joalheria, para mim, não é sobre representar, mas sobre sugerir. Evoco símbolos sem defini-los por completo, permitindo que cada peça se torne aquilo que o olhar do outro enxerga nela.
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A construção de uma coleção é um percurso que começa no abstrato. Um mergulho na literatura, na filosofia, na arte, antes de qualquer traço.
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Só depois, as palavras tomam corpo, as ideias se organizam e o metal se transforma. É um exercício contínuo de dar forma ao que não pode ser contido, de materializar sensações.
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No meu ateliê, cada joia é feita à mão. O tempo de criação é o tempo necessário para que a peça exista por completo. Nada se repete. Não há produção em série, porque acredito que cada peça exige atenção singular, que cada detalhe tem seu peso e que a joalheria deve carregar a presença de quem a fez.
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A joia parte de mim, mas se completa no outro. Não há um único significado, uma única leitura, uma única forma de usá-la. Ela vive nas interpretações, nas camadas que cada pessoa atribui a ela. O que começa como matéria se torna narrativa, vínculo, extensão de um olhar.
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Ana B. Valladares.